segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Internet não é mais uma nova tecnologia

A Internet não é mais uma nova tecnologia


por Aldo de Albuquerque Barreto

O conceito: nova tecnologia da informação e da comunicação está ultrapassado, - quando para significar o conjunto de tecnologias relacionadas à Internet, a web, a base digital única, o teleprocessamento e microeletrônica. É uma expressão envelhecida e errada, pois a tal nova tecnologia tem hoje cerca de 20 anos o que indica uma tecnologia velha. A própria interface web de Berners-Lee, uma tecnologia paralela a Internet, já vai para sua terceira versão. O que, contudo, não impede que outras novas tecnologias da informação aderentes apareçam a cada seis meses. Correto seria falar agora em tecnologias com intenso potencial de inovação para referenciar "as novas tecnologias de informação e comunicação".

É necessário, portanto, mesmo correndo o risco de ser maçante ou supérfluo, explicitar determinados conceitos relacionados com o assunto. Tecnologia é aqui definida aqui como sendo "o conjunto de todos os conhecimentos - científicos empíricos ou intuitivos - empregados na produção e comercialização de bens e serviços." Ao examinarmos o usado conceito de novas tecnologias, verificamos que este é contextual; ou seja, a nova tecnologia varia em relação ao contexto em que é introduzida.

O método Kardex de controle de periódicos, por exemplo, pode representar, hoje, uma nova técnica, ou uma nova tecnologia de tratamento da informação para uma biblioteca do interior que operava anteriormente com fichas em uma caixa de sapatos.

Verifica-se que o conceito de tecnologia está diretamente ligado ao de conhecimento, que definimos de forma bastante simples, como sendo o conjunto de informações que, absorvidas ou assimiladas, é capaz de modificar a estrutura cognitiva do indivíduo e do seu grupo.

Tecnologia, portanto, não é a máquina ou um processo de produção com suas plantas, manuais, instruções e especificações, mas, sim, o conhecimento que gerou a máquina, o processo, a planta industrial; conhecimento e que permite uma absorção, adaptação, transferência e difusão quando associado à uma base de informação.

O termo transferência de tecnologia só deve ser empregado quando se verificar a transferência do conhecimento associado ao funcionamento e geração do produto ou processo criando, assim, a possibilidade de (re)originar nova tecnologia ou de adaptá-la às condições do contexto. Não havendo a transferência de conhecimento, estabelece-se simplesmente uma transação de compra e venda de tecnologia fechada e embalada como uma mercadoria, geralmente denominada "pacote tecnológico" ou "caixa preta".

Todo processo de produção de tecnologia envolve atividades de pesquisa e desenvolvimento. A pesquisa produz novos conhecimentos e o desenvolvimento experimental testa a operacionalidade deste novo saber mirando na produção de novos materiais, produtos, equipamentos e processos. O desenvolvimento experimental examina a possibilidade de se usar a nova técnica e testa a existência de condições estruturais em termos de infraestrutura de engenharia básica para sua operacionalização. De nada adianta a geração interna de tecnologia, ou a sua transferência externa caso não se tenha, no país, as condições que possibilitem a criação de uma capacidade industrial, isto é caso não se possa "engenheirar" internamente a nova técnica.

No desenvolvimento de determinada tecnologia aparecem sempre tecnologias paralelas relacionadas aos insumos ou ao equipamento ou ao processo de produção. A tecnologia principal é a central. As paralelas são tecnologias correlatas. Urna tecnologia central muitas vezes necessita, para sua operacionalização de uma tecnologia paralela. É o caso da Internet visualmente operada com o software da Web. Neste caso, chamamos de tecnologia coadjuvante a esta tecnologia particular e especifica.

O potencial de absorção de tecnologia nova vai depender basicamente de quatro fatores:

1. atividades de Pesquisa e Desenvolvimento Experimental e infraestrutura de engenharia existente internamente;
2. possibilidade de transferência de tecnologia adquirida no exterior;
3. nível de qualidade do estoque de tecnologia instalada no país; a densidade tecnológica existente;
4. competência operacional do setor produtivo. De nada adianta pesquisar e desenvolver uma nova forma de empacotar bananas se não existir na indústria máquinas necessárias para operar isto.

Mas a tecnologia está referenciada sempre a um conjunto de informações, aos princípios científicos ou intuitivos, aos processos de uma arte aplicados a um determinado ramo de atividade.

A Inovação difere basicamente da invenção tecnológica. Se a tecnologia é uma sucessão de eventos sistemáticos de técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos relacionados a uma ação de transformação operacional a inovação é a aceitação e a difusão destes eventos pela pluralidade dos elementos de um determinado espaço social. Relaciona-se a uma introdução de um conhecimento assimilado e representa um conjunto de atos voluntários pelo qual os indivíduos em conjunto reelaboram e tentam modificar o seu mundo.

A inovação não é a simples transferência da técnica; é uma ação de aceitação e inclusão de um conhecimento que foi aceito em uma realidade; a inovação representa um conjunto de atos voluntários, sujeitos a barreiras contextuais e operacionais; depende do homem e sua vontade não importando a simplificação que os conceitos econômicos, comerciais ou de marketing falem do termo.

Fonte: Publicado em Colunas no DataGramaZero,  v. 11, n. 3, ago. 2010.